AS SMART DRUGS E O DIREITO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO: UMA ANÁLISE DOS LIMITES LEGAIS DO APRIMORAMENTO COGNITIVO
DOI:
https://doi.org/10.25110/rcjs.v28i1.2025-11538Palavras-chave:
Smart drugs, Relações de consumo, Aumento cognitivoResumo
O presente artigo examina o uso de smart drugs para aprimoramento cognitivo e suas implicações legais no contexto das relações de consumo. O objetivo é analisar a comercialização de nootrópicos, que frequentemente é realizada de maneira ilegal no ambiente digital, onde a disseminação de desinformação contribui para a formação de expectativas irreais e práticas inseguras. Isso intensifica os desafios relacionados à falta de regulamentação e aos potenciais efeitos colaterais para a saúde. O artigo explora a relação entre smart drugs e o conceito de biohacking. A Constituição Federal estabelece a defesa do consumidor como um direito fundamental (art. 5º, inciso XXXII) e como um princípio da ordem econômica (art. 170, V), o que evidencia a necessidade de considerar a aplicabilidade desse direito em um contexto de rápida evolução tecnológica e suas implicações na medicina contemporânea. A metodologia adotada inclui o método hipotético-dedutivo, com análise da doutrina, artigos acadêmicos, leis nacionais e resoluções, com base em pesquisa bibliográfica e abordagem qualitativa. A conclusão é que o uso de smart drugs para fins não terapêuticos é ilegal. Além disso, a venda clandestina dessas substâncias por meio de plataformas on-line, sem a devida prescrição médica, também constitui uma prática ilegal e passível de punição. Sendo assim, tanto os fabricantes quanto os comerciantes podem vir a ser responsabilizados a depender das particularidades de cada caso.
Downloads
Referências
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Prescrição e consumo de metilfenidato no Brasil: identificando riscos para o monitoramento e controle sanitário. Boletim de Farmacoepidemiologia do SNGPC, ano 2, n. 2, jul./dez. 2012. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/sngpc/boletins/2012/boletim_sngpc_2_2012_corrigido_2.pdf. Acesso em: 28 ago. 2024.
AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado. Extinção dos contratos por incumprimento do devedor. 2. ed. Rio de Janeiro: Aide, 2003.
ALVES, Fabrício Germano. Direito publicitário: proteção do consumidor. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2025.
BARROS, Denise; ORTEGA, Francisco. Metilfenidato e aprimoramento cognitivo farmacológico: representações sociais de universitários. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 20, n. 2, p. 396-407, 2011.
BECKSTROM, M.; LUND, B. Casting L: a guide for safe exploration on the Dark Web. New York: Rowman & Littlefield Publishers, 2019.
BOSTROM, N.; ROACHE, R. Ethical issues in human enhancement. In: RYBERG, J.; PETERSEN, T.; WOLF, C. (org.). New waves in applied ethics. London: Palgrave Macmillan, 2007. p. 119-142.
BOYD, D. M. Social Network Sites as Networked Publics: Affordances, Dynamics, and Implications. In: PAPACHARISSI, Z. (ed.). A Networked Self - Identity, Community, and Culture on Social Network Sites. New York: Routledge, 2011. p. 39-58.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 28 ago. 2024.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 28 ago. 2024.
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. Acesso em: 28 ago. 2024.
BRASIL. Ministério da Saúde/SNVS. Portaria nº 344 de 12 de maio de 1998. Aprova o Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 31 dez. 1998.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Embargos de Divergência em Recurso Especial (EREsp) nº 1515895 MS 2015/0035424-0. Relator: Ministro Humberto Martins. Data de Julgamento: 20 set. 2017. CE - CORTE ESPECIAL. Data de Publicação: DJe 27 set. 2017.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial (REsp) nº 716877 / SP (2005/0004852-3). Recorrente: Scania Latin América LTDA. Recorrida: Carlos Augusto dos Santos. Relator: Ari Pargendler. Terceira Turma. Brasília, DF, 22 de março de 2007. Diário de Justiça Eletrônico, Brasília, 23 abr. 2007. Disponível em: https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?src=1.1.3&aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&num_registro=200500048523. Acesso em: 28 ago. 2024.
BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia (a idade da fábula): histórias de deuses e heróis. Tradução de David Jardim Júnior. 26. ed. Rio de Janeiro: [s. n.], 2002.
CALADO, V. Novas Substâncias Psicoativas: o caso da Salvia Divinorum. Lisboa: SICAD, 2013.
CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CEDERSTRÖM, Carl. Like it or not, “smart drugs” are coming to the office. 2016. Disponível em: https://hbr.org/2016/05/like-it-or-not-smart-drugs-are-coming-to-the-office. Acesso em: 28 ago. 2024.
CHINTHAPALLI, K. The billion-dollar business of being smart. BMJ, Londres, n. 351, 2015.
COELHO, Vinicius. Uso indiscriminado do metilfenidato para o melhoramento acadêmico: Uma revisão de literatura. 2019. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Farmácia) - Faculdade Maria Milza, Governador Mangabeira, BA, 2019. Disponível em: https://www.cff.org.br/noticia.php?id=5279. Acesso em: 28 ago. 2024.
CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Instituto Datafolha: o comportamento dos brasileiros em relação à compra e ao uso de medicamentos teve grande repercussão na imprensa nacional. Brasília, 2019. Disponível em: https://www.cff.org.br/noticia.php?id=5279. Acesso em: 28 ago. 2024.
COVARRUBIAS, Jersain Z. Llamas. Derechos humanos, transhumanismo y posthumanismo: una mejora tecnológica humana. Derechos Fundamentales a Debate, n. 12, p. 85-104, 2020. Disponível em: http://cedhj.org.mx/revista%20DF%20Debate/articulos/revista_No12/ADEBATE-12-art5.pdf. Acesso em: 28 ago. 2024.
COVENEY, C. M.; NERLICH, B.; MARTIN, P. Modafinil in the media: metaphors, medicalisation and the body. Social Science & Medicine, v. 68, n. 5, p. 958-965, 2009.
DAVIES, Caroline. Universities told to consider dope tests as student use of ‘smart drugs’ soars. The Guardian, 2010. Disponível em: https://www.theguardian.com/education/2010/jan/07/universities-dope-tests-smart-drugs. Acesso em: 28 ago. 2024.
DESANTIS, A. D.; WEBB, E. M.; NOAR, S. M. Illicit use of prescription ADHD medications on a college campus: A multimethodological approach. Journal of American College Health, v. 57, n. 3, p. 329-335, 2008.
DONATO, Maria Antonieta Zanardo. Proteção ao consumidor: conceito e extensão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993.
FARAH, Martha. The unknowns of cognitive enhancement. Science, v. 350, n. 6259, p. 386-387, 2015.
FERRAZ, F. C. Normopatia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.
FORLINI, Cynthia; GAUTHIER, Serge; RACINE, Eric. Should physicians prescribe cognitive enhancers to healthy individuals? Canadian Medical Association Journal, v. 185, n. 12, p. 1017-1018, 2013.
FRANKE, A. G.; LIEB, K.; HILDT, E. What users think about the differences between caffeine and illicit/prescription stimulants for cognitive enhancement. PLoS ONE, v. 7, n. 12, 2012.
GENTIL, V. et al. Clomipramine-induced mood and perceived performance changes in selected normal individuals. Journal of Clinical Psychopharmacology, v. 27, n. 2, p. 177-182, 2007.
GRÉGOR, Puppinck. Os direitos do homem desnaturado. Cascais: Princípia, 2019.
HINE, C. Ethnography for the Internet: Embedded, Embodied and Everyday. London: Bloomsbury Academic, 2015.
HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. 21. ed. São Paulo: Editora Globo, 2001.
ITABORAHY, Claudia. A ritalina no Brasil: uma década de produção, divulgação e consumo. 2009. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) - Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: http://www.bdtd.uerj.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3630. Acesso em: 28 ago. 2024.
KRAMER, P. D. Listening to prozac: a psychiatrist explores antidepressant drugs and the remaking of the self. 1995.
LIMITLESS [seriado]. Direção: Marc Webb. Produção: Craig Sweeny et al. Estados Unidos: CBS Television Studios, 2015. 1 temporada.
LUCY [filme]. Direção: Luc Besson. Produção: Virginie Silla. França: EuropaCorp, 2013.
MAIA, Fidelis. As “DROGAS DA INTELIGÊNCIA”: apropriações e subjetividade no uso de psicofármacos para potencializar o desempenho cognitivo. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA, 31., 2018, Brasília, DF. Anais eletrônicos... Brasília, DF: Associação Brasileira de Antropologia, 2018. Disponível em: https://www.31rba.abant.org.br/resources/anais/1/1531776595_ARQUIVO_Asdrogasdainteligencia_FidelisMaia.pdf. Acesso em: 28 ago. 2024.
MAIER, L. J. et al. To dope or not to dope: Neuroenhancement with prescription drugs and drugs of abuse among Swiss university students. PLoS ONE, v. 8, n. 11, 2013.
MARCOS, Alfredo. Filosofía de la naturaleza humana. Eikasia. Revista de Filosofia, Oviedo, ano VI, n. 35, nov. 2010.
MARQUES, Cláudia Lima; BENJAMIN, Antonio Herman V; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. 9. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021.
MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antônio Herman V; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
MASLEN, H.; FAULMÜLLER, N.; SAVULESCU, J. Pharmacological cognitive enhancement - how neuroscientific research could advance ethical debate. Frontiers in Systems Neuroscience, v. 8, 2014.
MCCABE, S. E. et al. Non-medical use of prescription stimulants among US college students: prevalence and correlates from a national survey. Addiction, v. 100, n. 1, p. 96-106, 2005.
MOHAMED, A. D. Neuroethical issues in pharmacological cognitive enhancement. Wiley Interdisciplinary Reviews: Cognitive Science, v. 5, n. 5, p. 533-549, 2014.
MOHAMED, A. D.; SAHAKIAN, B. J. The ethics of elective psychopharmacology. International Journal of Neuropsychopharmacology, v. 15, n. 4, p. 559-571, 2012.
MORGAN, C. J. A.; CURRAN, H. V.; INDEPENDENT SCIENTIFIC COMMITTEE ON DRUGS. Ketamine use: a review. Addiction, v. 112, n. 8, p. 1479-1481, 2017.
MUSIAL, C. D.; SANTOS, D.; ALEXANDRINO, T. A automedicação entre os brasileiros. SaBios-Revista de Saúde e Biologia, v. 229, 2007.
ORTEGA, Francisco. et al. Ritalin in Brazil: production, discourse and practices. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 14, n. 34, p. 817-828, 2010.
RANNENBERG, Kai; ROYER, Denis; DEUKER, André. The future of identity in the information society: Challenges and opportunities. New York: Springer, 2009.
RINCÓN, Maria Luciana. “Pílulas da inteligência”: será que vale a pena usar essas substâncias? 2015. Disponível em: https://saude.abril.com.br/blog/corpo-e-mente/pilulas-da-inteligencia-sera-que-vale-a-pena-usar-essas-substancias/. Acesso em: 28 ago. 2024.
ROSKIES, A. Neuroethics for the new millennium. Neuron, v. 35, n. 1, p. 21-23, 2002.
SALIB, Marta Luiza Leszczynski. Contratos e a tutela do consumidor no comércio eletrônico internacional: a proteção jurídica do consumidor virtual no mercado globalizado. Curitiba: Juruá, 2014.
SATTLER, S. Nonmedical use of prescription drugs for cognitive enhancement as response to chronic stress especially when social support is lacking. Stress and Health, v. 35, n. 3, p. 248-257, 2019.
SAVULICH, G. et al. Focusing the Neuroscience and Societal Implications of Cognitive Enhancers. Clinical Pharmacology & Therapeutics, v. 101, n. 2, p. 170-172, 2017.
SCHESKE, Christel; SCHNALL, Simone. The ethics of “smart drugs”: Moral judgments about healthy people’s use of cognitive-enhancing drugs, PloS ONE, v. 7, n. 10, 2012.
SHERMAN, C.; PRICE, G. The invisible web: uncovering information sources searches engines can’t see. Medford: Cyberage Books, 2001.
SINGH, I.; BARD, I.; JACKSON, J. Robust resilience and substantial interest: a survey of pharmacological cognitive enhancement among university students in the UK and Ireland. PLoS ONE, v. 9, n. 10, 2014.
TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito do Consumidor: direito material e processual, volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; Método, 2021.
TURNER, Danielle; SAHAKIAN, Barbara. The cognition enhanced classroom. Demos, 2011. Disponível em: https://www.demos.co.uk/files/File/BH-7.pdf. Acesso em: 28 ago. 2024.
URBAN, K. R.; GAO, W. J. Performance enhancement at the cost of potential brain plasticity: neural ramifications of nootropic drugs in the healthy developing brain. Frontiers in Systems Neuroscience, v. 8, 2014.
WADE, L.; FORLINI, C.; RACINE, E. “Generating genius: how an Alzheimer’s drug became considered a ‘cognitive enhancer’ for healthy individuals”. BMC Medical Ethics, v. 15, n. 37, 2014.
WASSERMAN, J. A.; FITZGERALD, J. E.; SUNNY, N. E. "Smart drugs" as common as coffee: Media hype about neuroenhancement. PLoS ONE, v. 9, n. 11, 2014.
WILLIAMS, S.; MARTIN, P.; GABE, J. “The pharmaceuticalisation of society? A framework for analysis”. Sociology of Health & Ilness, v. 33, n. 5, p. 710-725, 2011.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Revista de Ciências Jurídicas e Sociais da UNIPAR

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.




