CARACTERIZAÇÃO DAS BARREIRAS DE ACESSO À SAÚDE GINECOLÓGICA E SEXUAL DE MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA: ESTUDO DE CASO
DOI:
https://doi.org/10.25110/arqsaude.v29i1.2025-11595Palavras-chave:
Promoção de Saúde, Saúde da Mulher, Vulnerabilidade SocialResumo
Introdução: As barreiras sociais impostas às mulheres em situação de rua contribuem para o afastamento desse grupo das instituições governamentais de saúde. Isso posto, o estudo objetiva caracterizar as condições de saúde dessas mulheres em um município de porte médio do estado do Paraná. Metodologia: Trata-se de um estudo de natureza exploratória e abordagem quantitativa, no qual foram analisados os prontuários disponibilizados pelo serviço do Consultório na Rua (CnR) da Secretaria Municipal de Saúde do município. Resultados e Discussões: A média de idade das mulheres foi de 36,47 anos. A maioria (35,6%) vivia nas ruas entre 2 a 10 anos, e 18,4% estavam em situação de rua por mais de 10 anos. 73,6% das mulheres tinham até 9 anos de escolaridade, o que reflete uma baixa instrução formal. 81,6% realizaram entre uma a cinco consultas, mostrando que, embora o acesso aos serviços de saúde exista, a continuidade do cuidado pode ser limitada. Com relação às principais queixas que levaram as mulheres ao atendimento no CnR, 26,4% apresentavam queixas uroginecológicas. Conforme se constatou, embora 52,9% das mulheres façam o uso de métodos contraceptivos, 44,8% das mulheres estavam com o exame de rastreamento de colo uterino em atraso. Conclusões: Inicialmente, a hipótese era de que a maioria das mulheres apresentaria queixas uroginecológicas; contudo, 73,6% das participantes não identificaram essas sintomatologias. Embora o resultado tenha sido contrário ao pressuposto inicial, a literatura reforça os riscos de saúde enfrentados por essas mulheres, devido ao ambiente precário das ruas, onde as necessidades básicas não são atendidas, além dos ciclos menstruais que viabilizam um ambiente oportuno para infecções. Além disso, as mulheres vulneráveis socioeconomicamente tendem a procurar serviços de saúde para procedimentos de caráter curativo e não preventivo. Portanto, o fato de as participantes estarem em situação de rua atua como fator impeditivo na busca dos resultados dos exames.
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